Neste tempo quaresmal, o povo cristão é convidado a desfrutar dos tesouros do paraíso, e o caminho de volta à pátria perdida continua aberto para todos os batizados. No entanto, que ninguém feche para si próprio aquele caminho que se abriu também para o ladrão arrependido.
Quebrar as pedras do coração infiel e tremer diante do flagício do Salvador, sair dos túmulos proclamando a vitória sobre os obstáculos, a fim de surgirmos, neste tempo, na cidade santa, ou seja, na Igreja, como sinal da ressurreição que há de vir primeiro no coração, como experiencia interior, e depois, definitivamente nos corpos.
É esse movimento de conversão que a vivência correta da Quaresma realiza na vida dos batizados, preparando-os para a configuração ao Filho do Homem, que é manso e humilde de coração (Mt 11,29). E para apagar a mancha do pecado na vida dos homens, o Filho eterno do Pai, em obediência suprema, assumiu, em sua humanidade, a chaga de morte destinada aos homens, para que a estes não faltasse a Sua divindade em sua exatidão.
Reconhecer a necessidade de Cristo na alma já é o primeiro passo para eliminar a incredulidade e ignorância, as pedras do coração provenientes daquela escuridão da antiga noite do pecado, que agora é iluminada pela poderosa luz da cruz de Cristo. Na sua infinita misericórdia, Cristo não nega a nenhum pecador a vitória de sua cruz, o corpo unido a Cabeça não perece.
O sangue precioso de Nosso Senhor devorou a chama da espada que era obstáculo para a morada verdadeira, reino de vida e esperança. Em Cristo Jesus, o documento que nos escravizava foi queimado de uma vez por todas. E Ele mesmo, o misericordioso do Pai, reescreve a história de cada um que se converte. Não há homem que se tenha convertido que a oração de Cristo não o socorra.
O crente não pode se envergonhar do Senhor. E se no caminho de conversão (quebrando as pedras do coração) houver fidelidade, unidade e coragem para testemunhar, com a própria vida, a vida do Senhor, Ele mesmo dirá a respeito deste filho: “Portanto, todo aquele que se declarar a meu favor diante dos homens, também eu me declararei em favor dele diante do meu Pai que está nos céus.” (Mt 10,32)
A meta quaresmal deve ser, a partir das práticas que pela santa Mãe Igreja são oferecidas, nada menos que um coração puro, ou seja, a configuração a Cristo. Tudo o que Ele viveu, fez ou sofreu foi para nos salvar e unir o corpo à divindade da cabeça. Tudo Nele era para salvar o que estava perdido. Sem Ele, as pedras permanecem; com Ele, elas são quebradas.