A Divina Providência nos oferece 40 dias especiais, todos os anos, para que deixemos nosso coração reencontrar o caminho de regresso para Deus. E é Deus mesmo que vem ao nosso encontro para nos levar de volta com Ele. “E agora que veio ter conosco, convida-nos a regressar a Ele, para voltarmos a encontrar a alegria de sermos amados” (Papa Francisco).
Sozinhos não podemos voltar. Deus conhece a fragilidade de nosso débil coração, que tende a deixar-se escravizar pelas paixões deste mundo: ilusões, medos, ambições desmedidas, desejos desordenados. Então Ele intervém, a ponto de que tenhamos condições de nos libertar de toda e qualquer prisão para viver a gloriosa liberdade de filho de Deus.
O Pai que nos espera, o Filho que vem nos curar para a caminhada e o Espírito Santo que nos faz viver o fogo do amor; é a Santíssima Trindade que se move para que tenhamos todas as condições de voltar, e voltar sempre.
Você e eu podemos voltar para Deus, pois Ele destruiu toda barreira que nos impede de caminhar. É assim a Quaresma: um tempo forte de regresso para todos, para quem precisa regressar pela primeira vez e para quem já regressou tanto e afastou-se de novo. Todos podemos voltar, simplesmente porque Ele nos espera, nos atrai e nos conduz pela mão, como a criança conduzida pelo papai.
O caminho da viagem de regresso para Deus nos pede passos claros e objetivos: a oração, o jejum e a esmola. Precisamos nos manter conectados, na presença de Deus, saboreando a suavidade do Senhor. Sempre contemplando o destino. Ainda temos que enfrentar nosso grande inimigo: nós mesmos. Um combate constante para não deixar que se abram aquelas brechas que o diabo usa para interromper nossa viagem. E nós somos os únicos responsáveis pela abertura destas brechas. E mais, não somos os únicos que precisam voltar. Abrir-se às necessidades daqueles que Deus nos concedeu a graça de precisarem de nossa ajuda é ter a oportunidade de manifestar nosso amor pelo Senhor, que infinitamente nos ama.
Vamos conhecer melhor os passos deste caminho com São Pedro Crisólogo, bispo do século IV: “A oração é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os nossos olhos corporais são iluminados ao receber a luz, assim também a alma que se eleva para Deus é iluminada pela sua luz inefável. Falo da oração que não se limita a uma atitude exterior, mas brota do íntimo do coração; falo da oração que não se limita a determinados momentos ou ocasiões, mas se prolonga dia e noite, sem interrupção.
O jejum é a alma da oração, e a misericórdia é a vida do jejum. Ninguém tente dividi-las, porque são inseparáveis. Quem pratica apenas uma das três, ou não as pratica todas simultaneamente, na realidade não pratica nenhuma delas. Portanto, quem ora, jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede, pois aquele que não fecha os seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.
Quem jejua, entenda bem o que é o jejum: seja sensível à fome dos outros, se quer que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso, se espera alcançar misericórdia; compadeça-se, se pede compaixão; dê generosamente, se pretende receber. Muito mal suplica quem nega aos outros o que pede para si.”
Na Comunidade Crux Sacra, enxergamos e experimentamos o tempo quaresmal como um período muito rico de oportunidades para nos libertarmos de nós mesmos e nos abandonarmos nos braços cheios de ternura, compaixão e misericórdia do Senhor nosso Deus.